Geoparque de Uberaba é reconhecido pela UNESCO como geoparque mundial

28/03/2024 às 21h01
 | Atualizado em: 24/05/2024
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 Centro de Pesquisas Paleontológicas Lewellyn Ivor Price e Museu dos Dinossauros, no Geoparque Uberaba (Fonte: volume I do livro Geoparques do Brasil)

Centro de Pesquisas Paleontológicas Lewellyn Ivor Price e Museu dos Dinossauros, no Geoparque Uberaba (Fonte: volume I do livro Geoparques do Brasil)

O Brasil tem mais um geoparque reconhecido mundialmente, após estudos do Serviço Geológico do Brasil (SGB), que embasaram a proposta. Nesta quarta-feira (27), a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) anunciou a chancela do “Geoparque de Uberaba – Terra dos Gigantes”, no Triângulo Mineiro.

Com o status, o Geoparque Uberaba se une aos outros 212 geoparques de 48 países - sendo cinco brasileiros - que já fazem parte da Rede Global de Geoparques, ganhando visibilidade e notoriedade internacional. O local é o primeiro geoparque do estado de Minas Gerais e da Região Sudeste, sendo também o único de todas as Américas a ser chancelado pela UNESCO em 2024.

“O diferencial deste geoparque e sua relevância geocientífica se devem aos fósseis de dinossauros e de outras espécies que foram descobertos no local. Existem geossítios de interesse paleontológico, que podem ser visitados e precisam ser geoconservados, pois foram locais de descobertas de fósseis e podem ainda revelar novas descobertas”, explica o geólogo Carlos Schobbenhaus, um dos idealizadores do Projeto Geoparques do SGB e co-autor do estudo sobre a proposta do Geoparque Uberaba, publicado em 2012.
 

Geossítio Caieira: marco das primeiras escavações paleontológicas sistemáticas desenvolvidas em Uberaba e o mais relevante sítio de ocorrências de vertebrados do Cretáceo continental brasileiro (Foto: Carlos Schobbenhaus/SGB)
Geossítio Caieira: marco das primeiras escavações paleontológicas sistemáticas desenvolvidas em Uberaba e o mais relevante sítio de ocorrências de vertebrados do Cretáceo continental brasileiro (Foto: Carlos Schobbenhaus/SGB)


No local, foram encontrados fósseis, dentes, ovos e ninhadas de dinossauros do período Cretáceo Superior – entre 80 milhões e 66 milhões de anos atrás. Dentre eles, os ossos do Uberabatitan ribeiroi, o maior dinossauro brasileiro e um dos últimos titanossauros do planeta, com 27 m de comprimento e 14 m de altura.

Na região também foram descobertos fósseis de grandes carnívoros terópodes, como o Abelissauro (Abelisaurus comahuensis), com cerca de 8 metros de altura, além de crocodilomorfos, como o Uberabasuchus terrificus (foto abaixo), expostos no Museu dos Dinossauros de Peirópolis - que fica no Geoparque Uberaba.
 

Crânio do Uberabasuchus terrificus (Foto: André Borges Lopes)
Crânio do Uberabasuchus terrificus (Foto: André Borges Lopes)


Há também dois outros atributos históricos e culturais que foram considerados para indicar a representatividade internacional do geoparque. Um deles é que Uberaba é considerada a “Capital Mundial do Zebu”, devido ao potencial agropecuário para criação desse tipo de gado. A cidade foi também onde viveu o líder espírita Chico Xavier.

SGB é o principal indutor do reconhecimento de geoparques

Em 2012, o SGB apresentou a proposta de criação do Geoparque Uberaba, em capítulo do volume I do livro “Geoparques do Brasil - Propostas” do SGB (disponível aqui) , que evidencia a relevância geocientífica da região.

Desde 1940, a área é foco de pesquisas paleontológicas, inclusive do SGB.
“Nós já conhecíamos o potencial daquela localidade para a proposição de um geoparque e aprofundamos os estudos por meio do Projeto Geoparques”, detalha o geólogo Schobbenhaus, que também é membro-fundador e presidente da Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (SIGEP).
 

O geólogo Carlos Schobbenhaus com o volume I do livro Geoparques do Brasil - Propostas (Foto: Larissa Souza/SGB)
O geólogo Carlos Schobbenhaus com o volume I do livro Geoparques do Brasil - Propostas (Foto: Larissa Souza/SGB)


No ano de 2022, pesquisadores visitaram a unidade para complementar o inventário geológico e, em 2023, foi publicado o Mapa do Patrimônio Geológico do Geoparque de Uberaba - Terra dos Gigantes, com o inventário de 31 geossítios e sítios da geodiversidade do local. Além da paleontologia, o estudo apresentou inventário de geossítios nos temas: vulcanismo, estratigrafia e sedimentologia, geomorfologia, hidrogeologia e patrimônio geomineiro. Todos os geossítios estão cadastrados na plataforma Geossit.

Esse estudo fortaleceu o dossiê de candidatura do Geoparque Uberaba, encaminhado à UNESCO, conforme avalia o geólogo da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) Luiz Carlos Borges Ribeiro, um dos idealizadores do Projeto Geoparque Uberaba e co-autor do estudo sobre a proposta da unidade: “O SGB foi determinante para esta conquista internacional, que demandou 14 anos de muito trabalho, esforço e determinação”, destaca.

Projeto Geoparques

Os trabalhos realizados fazem parte do Projeto Geoparques, por meio do qual o SGB atua como importante indutor no processo de reconhecimento das áreas. Ao longo dos últimos 20 anos, foram elaborados relatórios com identificação, levantamento, descrição, inventário e diagnóstico de geoparques potenciais, do ponto de vista geocientífico e geoturístico.

“Em 2007, sugeri criar o projeto Geoparques porque vi o grande potencial do país para a criação de novos geoparques, com importantes geossítios e sítios da geodiversidade. Diversos desses geossítios representam importante patrimônio geológico, que precisa ser divulgado e preservado por fazer parte da história da evolução do nosso planeta”, relata Schobbenhaus. O geólogo acrescenta: “Nosso país tem registros dessa história, desde os mais antigos até os mais recentes. Assim, uma boa parte da história da Terra está representada no Brasil”.

Além do Geoparque Uberaba, a instituição realizou estudos que contribuíram para o reconhecimento de outros quatro geoparques brasileiros: Seridó, no Rio Grande do Norte; e Caminhos dos Cânions do Sul, Quarta Colônia e Caçapava do Sul, no Rio Grande do Sul. Esses dois últimos receberam a chancela em 2023. No Brasil, ainda há o Geopark do Araripe, no Ceará, o primeiro a entrar para a Rede Global de Geoparques, em 2006.

A designação de Geoparque Global é concedida por um período de quatro anos. Após esse prazo, os geoparques passam por um processo de revalidação, em que são novamente avaliados o funcionamento e a qualidade de cada unidade.

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