Bacia do Parnaíba revela potencial inédito para exploração de terras raras e urânio

28/07/2025 às 19h15
 | Atualizado em: 28/07/2025 às 19h15
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Levantamento do Serviço Geológico do Brasil identifica 39 novas ocorrências com altos teores de fósforo, urânio e elementos terras raras no Piauí e Ceará, impulsionando a mineração estratégica no país
 

Foto: SGB/Divulgação

Brasília (DF) - Um dos maiores levantamentos geológicos do país nos últimos anos trouxe à tona uma descoberta de grande impacto para o futuro da mineração no Brasil. Um estudo conduzido pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB) identificou 39 novas ocorrências minerais ricas em elementos terras raras (ETRs) e urânio na borda oriental da Bacia do Parnaíba, no estado do Piauí. Os dados indicam que a região pode abrigar um grande potencial para esses minerais críticos e estratégicos, essenciais para a transição energética e o avanço tecnológico global.

O Informe Técnico nº 27 do SGB, publicado em junho de 2025, apresenta os resultados do Projeto Geologia e Potencial Mineral da Borda Oriental da Bacia do Parnaíba. A pesquisa abrangeu áreas nos estados do Piauí e Ceará, com foco nas formações Itaim, Pimenteira e Longá — unidades geológicas do período Devoniano. Nelas foram identificadas concreções fosfáticas e arenitos com níveis excepcionais de fósforo (P₂O₅), elementos terras raras e urânio.

Concentração recorde de elementos estratégicos

Segundo o levantamento, as concreções fosfáticas da região apresentaram teores de fósforo entre 16% e 27%, e elementos terras raras com média de 0,4% e valor máximo anômalo de 2,3% em uma das amostras.

Amostras de arenitos também se destacaram, com teores médios de elementos terras raras em torno de 0,2% e máximos de até 0,4% que, mesmo com baixos níveis de fósforo, indica um enriquecimento mineral independente da matriz fosfática, possivelmente associado à presença de minerais pesados oriundos de fontes ígneas ou metamórficas, e à ação de processos hidrotermais ou autigênicos — índice que coloca a Bacia do Parnaíba entre as mais ricas do mundo nesse tipo de ocorrência.

O urânio, por sua vez, foi encontrado em concentrações que variam de 9 a impressionantes 1.270 ppm — muito acima da média dos principais depósitos mundiais. Tais teores, segundo o relatório, tornam viável a recuperação desse elemento mesmo em cenários econômicos desafiadores.

Relevância econômica e ambiental

A descoberta ganha ainda mais importância diante da crescente demanda global por elementos terras raras, fundamentais para a fabricação de tecnologias verdes como turbinas eólicas, baterias, veículos elétricos e equipamentos eletrônicos. A possibilidade de extrair ETRs como subproduto da mineração de fosfato reforça o modelo da economia circular e contribui para a redução da dependência de fontes internacionais, como a China, que detém o controle da maior parte da oferta mundial desses minerais.

Experimentos internacionais demonstram que técnicas simples de lixiviação com ácidos diluídos são capazes de recuperar quase 100% dos elementos terras raras de fosforitos, o que facilita a viabilidade industrial. No caso da Bacia do Parnaíba, os teores encontrados são comparáveis — e, por vezes, superiores — aos dos principais depósitos já explorados nos Estados Unidos, Austrália e norte da África.

Guia para prospecção e próximos passos

Com base nos dados de campo e análises geoquímicas, o SGB recomenda que os próximos esforços de prospecção sejam concentrados nas formações Itaim, Pimenteira e Longá, com uso de gamaespectrômetros portáteis para detecção de anomalias radiométricas acima de 1.500 cps. Estruturas geológicas como concreções nodulares, texturas mosqueadas, vênulas e fraturas associadas a rochas de alta densidade são indicativos confiáveis da presença de elementos terras raras e urânio.

O estudo ainda classifica o potencial da região como "promissor a altamente promissor" para o desenvolvimento econômico de depósitos minerais estratégicos. Entretanto, ressalta a necessidade de estudos em escala mais detalhada para avaliação do volume e da viabilidade de lavra desses depósitos.

Brasil no centro da nova corrida mineral

A Bacia do Parnaíba já é conhecida por sua importância geológica, mas este levantamento coloca a região em um novo patamar no cenário internacional. Com investimentos certos e políticas públicas voltadas à mineração sustentável, o Brasil pode assumir um papel de destaque na produção de minerais essenciais à transição energética global.

Este avanço reforça a importância dos projetos conduzidos pelo SGB e aponta caminhos para ampliar o conhecimento geológico nacional, fomentar a indústria de base mineral e atrair investimentos estratégicos para o país.

Acesse o Informe Técnico nº 27 completo aqui.

Larissa Souza
Núcleo de Comunicação

Serviço Geológico do Brasil
Ministério de Minas e Energia
Governo Federal
imprensa@sgb.gov.br

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