Estudo do Serviço Geológico do Brasil sugere causas para os frequentes tremores de terra no Ceará

Sexta-feira, 02 de junho de 2023

Estudo do Serviço Geológico do Brasil sugere causas para os frequentes tremores de terra no Ceará

Pesquisa gera informações que contribuem para aprofundar debates sobre abalos sísmicos intraplaca e podem auxiliar no planejamento urbano, ao apontar zonas ativas

Distribuição de zonas sísmicas na porção setentrional da Província Borborema, obtidos a partir da distribuição de epicentros de sismos (RSBR) e enfatizando a presença de três zonas sísmicas ativas no Ceará e mais três no Rio Grande do Norte, imediatamente a sul do rift da Bacia Potiguar. (Fonte: elaborado pelo autor)

O Ceará é um dos estados brasileiros que mais registra tremores de terra. Mas quais são as causas para os abalos sísmicos frequentes em uma região considerada “tectonicamente estável”, por estar no centro de uma placa tectônica? Essa foi a pergunta que motivou um estudo elaborado por pesquisadores do Serviço Geológico do Brasil (SGB). A análise e as conclusões estão no Informe de Geofísica Aplicada – Sismicidade do Ceará, publicado neste mês e disponível aqui.

De acordo com o trabalho, a ocorrência de abalos sísmicos na região está relacionada à evolução do rifte da Bacia Potiguar, situada no extremo oriental da região nordeste brasileira, entre os estados do Rio Grande do Norte e do Ceará. Riftes são estruturas resultantes do afinamento e ruptura da crosta terrestre. No caso da Bacia Potiguar, a formação está relacionada ao processo de estiramento crustal que resultou no rompimento do Supercontinente Gondwana, a partir do Mesozoico. O processo culminou com a separação das placas Sul-Americana e Africana, e a formação do Oceano Atlântico.

A geometria da Bacia Potiguar pode ser descrita como um ramo de rifte abortado (aulacógeno), com uma porção no ambiente terrestre e outra no ambiente marítimo. Os dados sismológicos indicam que essa é uma região tectonicamente ativa, com tremores de terra frequentes e que são explicados em razão do balanço de tensões existentes na porção superior da crosta terrestre.

“A gente tem uma região de crosta fina, altamente fraturada, com falhas geológicas, que está em um jogo de tensões. Nesse processo, há pequenas acomodações, ou seja, deslocamentos intraplaca, que provavelmente geram esses tremores de terra”, explica o geofísico do SGB Frederico Sousa, um dos autores do estudo. Devido ao estiramento crustal, a espessura da crosta terrestre na região Nordeste se tornou mais fina - entre 30 e 40 quilômetros – enquanto, no restante do país e nas demais regiões continentais, a espessura crustal chega a 60 quilômetros.

Mapa de densidade de pontos para os epicentros dos sismos em função da magnitude dos eventos da série histórica (RSBR), enfatizando a presença de três zonas sísmicas ativas no território cearense: A) Zona Sísmica Médio Coreaú – porção noroeste do Ceará; B) Zona Sísmica Cascavel-Beberibe, na porção leste do estado, próxima à Zona Metropolitana de Fortaleza; C) Zona Sísmica Quixeramobim, na porção central do estado do Ceará. Sigla dos estados: PE = Pernambuco; PB = Paraíba; RN = Rio Grande do Norte; PI = Piauí. Fonte: elaborado pelo autor.  (Fonte: elaborado pelo autor)

Zonas sísmicas ativas no Ceará – Os pesquisadores mapearam três zonas sísmicas ativas e as classificaram como: Zona Sísmica Médio Coreaú, na porção noroeste do estado; Zona Sísmica Cascavel-Beberibe, na região costeira próxima à Zona Metropolitana de Fortaleza e Zona Sísmica Quixeramobim, na porção central do Ceará.

Apesar de frequentes, os abalos sísmicos no Ceará têm magnitude considerada baixa: cerca de 80% variam entre 0,1 e 2,5 na escala Richter. No entanto, já foram registrados eventos mais expressivos, como em Pacajus (20 de novembro de 1980), onde ocorreu um terremoto de 5,2 na escala Richter, ou recentemente, entre os anos de 2019 e 2022, em que diversos tremores foram sentidos próximos ao município de Quixeramobim, com magnitudes em torno de 3,5 na escala Richter.

Além de ampliar o conhecimento geocientífico, a pesquisa contribui para o planejamento urbano e ações de prevenção a desastres, destaca o geofísico do SGB: “Com as informações, o setor da construção civil pode se preparar mais para esses pequenos abalos sísmicos e reforçar a estrutura dos prédios, casas ou estradas”, pontua. Os tremores de terra também podem provocar o deslizamento de blocos e oferecer riscos à população. Desse modo, os dados do Informe contribuem para o mapeamento de áreas de risco geológico.

A sismicidade intraplaca ainda é um assunto que está em debate dentro da comunidade científica. Desse modo, o trabalho realizado pelo SGB contribui para aprofundar a discussão sobre o tema, ao compilar estudos e trazer novas interpretações sobre esse fenômeno.

O estudo foi realizado pelos pesquisadores em geociência: Frederico Sousa, Iramaia Furtado Braga e Marcos Vinícius Ferreira.

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