Pesquisa apresenta evidências inéditas de rochas vulcânicas e glaciomarinhas em Mato Grosso

Segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Pesquisa apresenta evidências inéditas de rochas vulcânicas e glaciomarinhas em Mato Grosso

Estudo analisa a sucessão vulcânica da Sequência Metavulcanosedimentar Nova Xavantina, no estado do Mato Grosso, a fim de investigar o processo de fragmentação do supercontinente Rodínia

Pesquisador Marcelo em um dos locais de pesquisa, no Mato Grosso

Evidências inéditas de rochas vulcânicas e glaciomarinhas na porção oriental de Mato Grosso foram descobertas por pesquisadores do Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM), da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade de São Paulo (USP). O estudo “Vulcanismo explosivo do Toniano tardio e hialoclastitos no norte da Faixa do Paraguai, Brasil Central: um registro da fragmentação de Rodínia no oeste de Gondwana” indica dois novos estilos de vulcanismos no local, o que possibilita a descoberta e o desenvolvimento de novos depósitos polimetálicos na região.

O pesquisador do Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM) Marcelo Ferreira da Silva participou da produção do artigo, intitulado “Late Tonian explosive volcanism and hyaloclastites in northern Paraguay Belt, Central Brazil: A record of Rodinia break-up in western Gondwana” e publicado na revista Precambrian Research. “O estudo descreve pela primeira vez as rochas vulcânicas efusivas (hialoclastitos e metabasaltos), bem como rochas piroclásticas bimodais (ignimbritos e escórias), além de rochas intrusivas gabróicas mapeadas na borda leste da Faixa Paraguai, Brasil Central”, explica o pesquisador.

A pesquisa analisa a fragmentação do Rodínia, supercontinente que existiu há mais de um bilhão de anos e deu origem às grandes massas continentais como a Laurentia, o Gondwana, a Báltica e a Sibéria, que, milhões de anos depois, formaram a Pangeia. O artigo evidencia que a formação de crosta oceânica e o vulcanismo explosivo - ou piroclástico identificados na Faixa Paraguai, que envolve as explosões decorrentes da geração e expansão rápida da fase gasosa em magmas viscosos - são aspectos importantes para entender a história desse processo.

De acordo com os autores, o magmatismo Toniano - do período da era Neoproterozóica, quando Rodínia se rompeu - e a deposição de rochas ígneas e sedimentares glaciomarinhas na América do Sul são eventos que aconteceram de forma semelhante e simultaneamente em diversas partes do mundo.

A pesquisa identificou dois estilos de erupções vulcânicas, evidenciados por meio da caracterização das rochas: a erupção “Surteseiana” básica-ultrabásica e a erupção “Pliniana”, ambas associdas a rochas sedimentares glaciomarinhas (diamictitos, formações ferríferas e rochas carbonáticas). A erupção Surteseiana foi intensificada pela interação magma-água e é reconhecida pela presença de hialoclastitos e bombas de escórias incorporadas. Representado por tufos e ignimbritos ácidos, o estilo eruptivo Pliniano é derivado de violentas explosões vulcânicas. “Estas características mostram que a bacia se desenvolveu com a instalação de ambientes subaquosos rasos, como lagos, lagos salgados e talvez proto-oceanos, coevos com lavas basálticas e fluxo piroclástico”, explica Marcelo Ferreira.

Ele esclarece que, ao descreverem novos estilos de vulcanismos, principalmente os bimodais - efusivos e piroclásticos - no artigo, são abertas “novas perspectivas para a descoberta de depósitos polimetálicos na região (como ouro, cobre, chumbo, zinco, prata, molibdênio, antimônio e bário), associados a ambientes epitermais e sedimentares exalativos”.

“As rochas vulcânicas representam a tectônica extensional precursora para a formação da margem passiva do paleocontinente Amazônico, durante a ruptura do Rodínia e a construção do Oeste Gondwana”, continua Marcelo Ferreira. A pesquisa identifica também as idades U-Pb (atual sistema geocronológico utilizado para fornecer idades radiométricas) do vulcanismo associado à ruptura crustal da área analisada, que é de 745 a 714 milhões de anos (Ma).


Metodologia da pesquisa

O trabalho foi realizado a partir da metodologia de mapeamento geológico na escala 1:100000, a fim de definir a coluna estratigráfica da área. O trabalho de campo focou na sucessão vulcânica da Sequência Metavulcanossedimentar Nova Xavantina.

Juntamente com Marcelo Ferreira, participaram do estudo os pesquisadores Elton Luiz Dantas e Massimo Matteini, vinculados ao Instituto de Geociências da Universidade de Brasília, e Ricardo I. F Trindade, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo.


O que são rochas glaciomarinhas?

O pesquisador Marcelo Ferreira explica que os sedimentos glaciomarinhos envolvem um termo geral para descrever material inorgânico e orgânico, por vezes representado pela deposição de diamictitos (paraconglomerados) compostos de clastos de diversos tamanhos e composições, formados por processos glaciais (tilitos) e marinhos. Geralmente, essas rochas foram, no passado, "capeadas" por rochas carbonáticas (calcíticas/dolomíticas), provenientes de processos químicos e bioquímicos acumulados e precipitados em água marinhas rasas e aquecidas.


Maria Alice dos Santos
Núcleo de Comunicação
Serviço Geológico do Brasil SGB- CPRM
Ministério de Minas e Energia
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